terça-feira, dezembro 25, 2007


- o meu brinquedo é o mais bonito!
- não, é o meu!
- pai! pai! qual o mais bonito?
- não é o meu, mãe?
- parem de brigar por bobagem.
- vocês são irmãos, e irmãos não brigam.
- tá na hora de vocês dois irem dormir.
- bença mãe.
- bença, pai.

(na manhã seguinte, nada era mais bonito do que a felicidade dos irmãos, juntos, a brincar)


imagem de david cheung



domingo, dezembro 16, 2007


- você já foi criança?
- costumava brincar na chuva
- coloria nuvens?
- desenhava sonhos para não sabê-los morrer
- medo, é isso?

- solidão. apenas solidão.
imagem de antonio berni

domingo, dezembro 02, 2007

imagem de yolanda velazquez


escuta:
memórias desfeitas
são vaga-lumes sumindo na noite
e você já não sabe mais
como olhar para trás

domingo, novembro 04, 2007


como se eu pudesse trazer de volta
as manhãs de domingo cheias de nuvens espalhadas
pelo azul do céu que nos protegia enquanto de bicicleta rodávamos
as ruas estreitas da cidade-velha sem ligar pra mais nada
que não fosse a felicidade de estarmos conosco...
hoje, deitei em minha cama e dormi em paz

imagem de david cheung

sábado, outubro 06, 2007

acordou de um sonho
no qual menino brincava
misturando cores
donde pirilampos, estrelas
e gafanhotos enluarados
dos seus dedos surgiam
colorindo o mundo todo
de cores que não desbotavam


imagem de myrna ledesma

domingo, setembro 23, 2007

pra fabíola c.

quando alcanço o fim de tarde com cheiro de sol e de nuvens
que em minhas memórias sobrevive ao ranger do tempo,
estamos nalgum lugar só nosso,
juntos a sorrir-nos o romper da primavera

e mesmo que venham outras estações e envelheçam as esperanças
e murchem as flores e desapareça do céu o vôo das andorinhas
nos abraçaremos naquela tarde poente
anoitecendo o sonho azul que guardamos conosco

segunda-feira, setembro 03, 2007


escutou um choro
que parecia um uivo
apenas mais triste
embranquecido e vazio
(esperançar arrancado do ventre
à espera do sol nascente)
imagem de Ismael nery

sábado, agosto 04, 2007


eu costumava ser aquele menino idiota
que olha pros dois lados da rua antes de atravessar
e reza pro anjo da guarda antes de dormir
mas que nunca acreditou em papai noel
embora procurasse estrelas cadentes
no meio da noite lá no chão do quintal


imagem de myrna ledesma

segunda-feira, julho 23, 2007



fim de tarde dissipa-se
em azul
no empalidecer de ti que ficou

há ruas vazias estreitando
a saudade
onde passos miúdos imaginam alguém

imagem de Oswaldo Guayasamín

segunda-feira, julho 02, 2007

pelas ladeiras
descem poesias

chuva e lembranças
escoando a infância do velho palhaço que desistiu do picadeiro

[existe um abandono próprio àqueles que insistem em sonhar]

é com o sol poente que despertam estrelas

é no silêncio azul que guardamos nossas tristezas

é no sorriso trôpego que resistimos ao penar
é escondido em mim mesmo

que de vermelho pinto o nariz

dou piruetas
invento cambalhotas e tropeço no destino

brincando de ser feliz
como o palhaço criança
um dia soube brincar


imagem de chirico

quinta-feira, maio 31, 2007



o quarto está vazio
dum vazio habitado
por assombros que não partem

(ecos
da solidão)

quinta-feira, maio 24, 2007


no quarto

segredos

que pai e mãe

não saberiam


no quarto

brincadeiras

que só aos irmãos pertenciam

terça-feira, maio 08, 2007


com os pés molhados de chão molhado de chuva
cantigas-de-roda, éramos sorrisos
irmãos e primos fazendo da vida
um pedacinho de sonho
bom de sonhar.

quinta-feira, abril 05, 2007


certo dia lembrei
que meu irmão
era mais moleque que eu
e corria mais
e sorria mais
e vivia machucado de tanto cair
por ser tão assim
mais criança que eu
e eu
ficava com o silêncio
admirava os pedacinhos de sol
que poentes escapavam às estripulias

e coloriam das cigarras o cantar

sexta-feira, março 23, 2007


no céu azul
pintado na minha infância
tardes findavam
junto ao canto das cigarras

alumiadas de sol

domingo, março 04, 2007


recolhi os carrinhos de plástico
os soldadinhos do forte-apache
guardei-os no cesto de brinquedos
pra não brincá-los mais
naquela que foi a última manhã

na qual soube de mim, criança
imagem de alejandro asencio

domingo, fevereiro 18, 2007


belém
fim de tarde
relâmpago anunciando
CHUVA
logo mais as ruas estarão desertas
e nas praças desabrigadas de cantigas
enxugarei a saudade do menino
perdido na lonjura do meu peito

terça-feira, janeiro 30, 2007



a casa tinha um corredor enorme
que levava ao quintal
onde encontrávamos saúvas, embuás e joaninhas
era tão bom imaginar o que o silêncio
de cada um sonhava
para então sonharmos juntos

se queríamos brincar de desenho
as janelas sabiam
a hora certa de fazerem-se brancas nuvens
mas era da chuva que mais gostávamos
porque ela trazia o cheiro do céu
só para nos ensinar a voar

domingo, janeiro 21, 2007

ana gonzález prieto
saudade
desenhou nuvens onde havia tristeza
e logo se esvaiu toda a dor:
ignoremos do tempo os traços caducos
deixemos para trás os planos precisos
respiremos aquilo que vive mergulhado
na loucura do estranho mundo de nós dois

– minha prece entoada com fervor –

(um dia ainda seguro as tuas mãos
e descalços caminhemos
rumo à nossa casa,
menina que eu amo)

segunda-feira, janeiro 15, 2007


sob o céu que se recusava a descer
e escutar-nos os desejos entrelaçados à alma
não desistíamos de nenhum de nossos sonhos
e contávamos sorrindo, estrelas azuis
seguindo de todo indiferentes ao tempo
pequeno demais para conter a felicidade
de simplesmente estarmos ali
...

segunda-feira, janeiro 01, 2007

isabel nadal

ao neto, meu primo


você sorriu os brinquedos
que um dia crianças
juntos brincamos
ou deixou-os envelhecerem
trancafiados nos sonhos
outrora sonhados?