segunda-feira, agosto 28, 2006


chris lawrence
(pros meus amiguinhos
que feito eu
cresceram
pra não mais existirem)

a bola quebrou a janela da vizinha
que nos praguejou “moleques duma figa”
enquanto corríamos às gargalhadas
pra roubar goiaba do quintal alheio
ou planejar um mundo mágico
que nem sonhou breton

dia desses encontrei o zé galinha
que tinha chutado a bola naquela janela
e gargalhado mais que todos juntos
relembramos outras historinhas
como quem abre um velho baú
e depois fecha por querer

um aperto de mãos selou o encontro
que também foi uma despedida
e fomos embora sei lá pra onde
com a alma envelhecida
os ossos mudos

e a boca cheia de nada


domingo, agosto 20, 2006

david chung


- tá chovendo, filhinho.
é melhor ficar dentro de casa.
chama o teu irmão pra brincar...

(e nós brincamos)

como era bom
desenhar alegria
no céu de trovoadas

terça-feira, agosto 08, 2006


- todas essas cores, de onde vêm?
- estão em nossos olhos.
- como, se não as vejo quando me olho no espelho?
- é que tem que ser dia de chuva e precisamos fazer silêncio.
- sempre?
- não, nem sempre.
- quando mais, então?
- às vezes, basta um sorriso para que cheguem novas cores, estranhas cores, e todas as dores somem para bem longe.
- eu não sei sorrir desse jeito...
- assim nasce a felicidade.
- dentro de nós?
- está vendo aquela joaninha lá no meio da plantação?
- sim, sim! e é tão pequena e parece nem ligar para nada, só para as nuvens.
- percebeu?você está sorrindo e das suas mãos saem aquarelas.
- minhas mãos, nunca as tinha sentido assim! elas estão com gosto de infância.
- era o que te faltava. já podes ir e ser feliz.
- mas, você é só um espantalho. como poderia saber?
- eu guardo sonhos debaixo do meu chapéu.
- você não é feito de palha? por que guardar sonhos? não seria melhor sonhar?
- tenho medo quando a noite emudece o horizonte e eu fico aqui, só.
- e as estrelas cadentes, você não as vê?
- há muito não olho para o céu.
- mas, você ensinou-me a sorrir...
- não, não! o sorriso sempre esteve contigo, nos seus ossos, nas suas entranhas.
- e em você, não?
- resta-me pouco, o sol está cansado de mim.
- posso anoitecer ao seu lado, só essa vez?
- veja, o sol está partindo e sequer dirá adeus...
- seus olhos são tristes.
- a tristeza me é companheira.
- não desista...você ainda pode sorrir.
- seus olhos! não conhecia as cores que agora saltam dos seus olhos.
- você as vê?
- sim, bem aqui...bem perto...
- você está sorrindo!
- eu estou sonhando?
- estamos juntos...e felizes!
- até quando?
- pouco importa, estamos juntos.
- girassóis...
- eu os amanhecerei, ao seu lado.

terça-feira, agosto 01, 2006



tatuzinho-de-jardim
e folhas quase mortas
guardando estações outras
para ninguém, nunca mais
(a terra oferenda suas breves canções)
.
o quintal tinha formigas
que pareciam preguiçosas
quando a chuva molhava as tardes
brincadas dentro de casa
(paredes traziam outras margens, risonhas)
.
éramos quatro
mas barulhávamos por muitos
e crescíamos sem saber
que a vida um dia aporta adulta e sem cor
(tristes são as mãos que não sabem sonhar)